O Efeito Cobra na Economia

O Efeito Cobra na Economia

às 14:55

   Anualmente, um milhão de pessoas são picadas por cobras na Índia, sendo que 50 mil morrem. O problema já apavorava os britânicos durante o período colonial, entre 1858 e 1947. Reza a lenda que o governo utilizou uma estratégia para reduzir a quantidade de ofídios na região, oferecendo uma recompensa por cobra morta. Dessa forma, rapidamente milhões de pessoas se converteram em um exército de caçadores de cobras e a estratégia surtiu o efeito desejado. Com o passar do tempo muitos indianos perceberam que aquela política era uma ótima oportunidade para obter ganhos de forma sistemática, e passaram a criar cobras. Em pouco tempo, criadouros imensos haviam se espalhado.

 Percebendo o equívoco da medida, os ingleses suspenderam imediatamente as recompensas. Os criadores de cobras, que agora possuíam algo que não tinha mais valor, simplesmente as soltaram. Como resultado, a população de cobras ficou muito maior do que no período anterior ao programa. O resultado da iniciativa, ao invés de resolver o problema, só o agravou. Desde então, utiliza-se a expressão “efeito cobra” para designar intervenções cujas consequências agravam o problema inicial, mesmo que de forma não intencional.

  Existem infindáveis exemplos de consequências indesejadas derivadas de intervenções que procuravam, originalmente, bons resultados.

   Nos anos 70, um disco da banda alemã Scorpions trouxe em sua capa a foto de uma adolescente nua, com um efeito ocultando a genitália. A imagem foi censurada em vários países, gerando uma polêmica que, além de assegurar publicidade gratuita à banda, fez com que fosse amplamente acessada e compartilhada. Casos de censura que provocam maior interesse pela obra proibida são bastante comuns, principalmente devido uso massivo das redes sociais.

  Outro exemplo é quando o governo interfere na política de preços através de subsídios. No primeiro momento a consequência é benéfica, pois os preços baixam e mais pessoas podem consumir os produtos. Porém essa ação altera a lei natural de oferta e demanda, já que devido aumento na demanda, a oferta também é aumentada. Quando o subsídio é retirado, temos uma alta oferta para baixa demanda. Foi exatamente o que aconteceu no Brasil com os subsídios para compra de caminhões e ônibus 2015, onde 34 bilhões de reais foram injetados para esse fim. A frota aumentou aproximadamente 40%.

   A consequência de longo prazo foi que, devido a grande oferta de serviço, o preço do frete despencou. Porém os custos envolvidos no serviço continuaram subindo, deixando o negócio inviável e sendo motivo principal para a greve dos caminhoneiros de 2018.

    Frédèric Bastiat foi um intelectual e político francês que viveu na primeira metade do Século IXX. Sua obra apresenta inúmeras lições que, infelizmente, costumam ser desprezadas pelos formuladores de políticas econômicas.  Uma delas é a Lei das Consequências não Intencionais, que diz o seguinte: “na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição, uma lei, não geram somente um efeito, mas uma série de efeitos. Dentre esses, só o primeiro é imediato. Manifesta-se simultaneamente com a sua causa. É visível. Os outros só aparecem depois e não são visíveis. Podemo-nos dar por felizes se conseguirmos prevê-los… Entre um bom e um mau economista existe uma diferença: um se detém no efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever.”

    O Efeito Cobra está presente em todos os lugares. Beneficiar ou punir as pessoas para incentivar determinado comportamento é uma medida comumente adotada pelos governos.  Porém, há uma chance muito grande de que ações sejam tomadas para burlar a política implementada. Precisamos, portanto, avaliar o impacto das políticas públicas e atentar para projetos que, comprovadamente, produzem efeitos positivos e cuja relação de custo-benefício seja eficiente em todos os aspectos, no curto e no longo prazo.

Autor: Thiago Macangnin

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